Eu não consigo dormir

Meus pensamentos me açoitam

E eu não consigo dormir

Escuro é como o sol

Que faz doer meus olhos quando

o quero fitar

Eu gosto de olhar para o sol

Mesmo sabendo que ele

Poderia cegar-me.

No escuro prenuncio minha derradeira Insônia

A mente me acorrenta,

Mal posso me ver.

Algozes cruéis e irreverentes - o mundo representando-me

Uma encenação, teatro

Onde meras sombras são.

Se eu soubesse como lidar com a luz

Talvez o escuro sobrepuja-me no olhar

Cada cálida oração

Toda gélida confissão

Nada tira-me o peso amortecido - eu carrego defuntos em mim

Eu trago-os nas costas

Ando errante nesta estrada de ninguém,

A estrada da realidade.

Como quero sonhar um pouco!

Nem que pesadelos fossem.

Tira-me deste arenoso caminho

Onde as curvas se fazem como os contornos de minhas vozes internas -

Eu deito-me a palavra e sou objeto.

Meus pensamentos me capturaram, estou acordada

Substanciar meu próprio degelo,

Eu quero.

E agora ouço passos na sala. Ah, sou eu.

Levantei da cama, peguei meu caderno e caneta e não sou mais sozinha.

A solidão é não conseguir dormir

Hora nenhuma.

Persigo as palavras, tento capturá-las como quando elas

Estavam crepitando ávidas e dançantes

Em minha cabeça.

Agora as reúno e tento ser

A lâmpada que ilumina minha mente

E minha sala.

A solidão da madrugada não dói

Aliás, amarás tua solitude

E não mais terás dor,

Se a dor que venha seja mental, existencial, física e plural.

Agora eu não quero dormir nunca mais

Tubarão solitário e doente que enlouquece

Perdido na escuridão do eu - o mar, o meu eu.

O dia virá

A escuridão triste e bela inspirará

Os poetas no oriente

E aqui eu e nós - o silêncio

Mas e quantos? Me digam quantos mais são como eu?

Não conseguem dormir?

É, os poetas, eles não podem dormir.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 20/01/2023
Código do texto: T7700188
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