Poesia de Bolso 76 ( Testamento )
Os meus melhores amigos morreram todos.
Nem todos, mas quase...
E nesse triz de alegria por estarem vivos
Penduro os trastes tristes da esperança
Concreta e verde o inseto de Clarice
Não mais a que me sustenta nem sempre músculos
A carne eu sinto reclamando o fardo
De se estar vivo enquanto morto tardo
E amanheço com línguas sol a me lamber a pele
A me atestar o dia embora a sombra...
E de assim sorrir colhendo as lágrimas
Ou de assim chorar regando o riso
Eu colho a chuva que me pranteia
E deixo ao acaso, à sorte dos dados
Se Deus ou o Diabo, se fogo ou madeira.