FLUXO

Só pareciam ser ...

mas ali as águas que corriam já não eram mais as mesmas.

As certezas não têm voz .

Quando ouvi o rio

Seu burburinho embargado parecia me contar das coisas não ditas.

Os passarinhos bebericavam das águas turvas

Meio assustados

Como se quisessem fazer companhia ao falido resgate do que não estava mais lá.

Dizem que " nenhum ser toca o mesmo rio duas vezes".

Mas, no entorno pálido,

Era um esquálido galho de árvore que insistia em tocá-lo teimosamente

do mesmo jeito

A procurar algo que não sei

A enveredar

Inutilmente-pelo fluxo ido...

Como se a reforçar o dito pelas águas mudas.

O farfalhar do verão era frio e quieto

Tudo tão diferente...

A ensinar que toda mudança inesperada ocorre e segue no líquido silêncio.

Ali, era o tempo nú

A mostrar sua face oculta

A mais uma vez rasgar a pele

Para dar passagem aos seus novos fluxos