O sonho
O sonho
O silêncio abranda no meu colo leve despetalado
Caiem pétalas num linho breve de um cru amarrotado
Os meus cabelos descaidos têm um cheiro perfumado
Numa noite dos sentidos em que só em sonhos estiveste ao meu lado
Ai, se os sonhos não fossem os desejos que não aguentam escondidos
E que condimentam o pensamento dos dias ansiosos foragidos
A esperança seria apenas uma palavra por entre outras do dicionário
Seria vaga com letras serenas e cansadas num elo imaginário
Eles vêem pela escuridão das noites acordadas com o amor latente
Entram na solidão por entre as rugas atordoadas do lençol quente
Ficam ali quietos no desassossegado temporal da paixão
Com o sol matinal saiem de mansinho mas ficam despertos no coração
E assim vou mantendo a chama na aridez do deserto que me dás
Vou-te vendo em mim por perto na nudez que fica pelas manhãs
Luísa Rafael
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Porto, Portugal