Burro, Prolixo e Esforçado
As palavras mais simples
Fogem do lábio franzido
E se abrigam na renúncia
Pela confusão do sentido.
Acostumei-me com o olhar
Vago, por incompreensão,
De quem quer acompanhar
Meu caminho verborrágico.
Sob um esforço hercúleo
Ou com o desprezo de Hera
Todos estranham o enigma
Da minha cognição-quimera.
Por faltar a inteligência
Facilmente encontrada
Na câmara da minha ausência
E na prática introjetada
Cerco-me de um mundo torto
Pelas margens do oculto
E, profundamente absorto,
Dou vazão à dicotomia.
O sol que me irradia
Não é o mesmo deste mundo,
Mas é também uma estrela
Num universo moribundo.
A palavra que ilumina
É aquela lá no fundo,
No cansaço da retina
E na rima com Raimundo.
Vasta é a dor latente
De quem a linha é curva,
Pois os pontos no caminho
Exigem intensa retidão.
No futuro, verei-me doente
Por ignorar a água turva
Onde afoguei o velho eu
Em troca de compreensão.