Burro, Prolixo e Esforçado

As palavras mais simples

Fogem do lábio franzido

E se abrigam na renúncia

Pela confusão do sentido.

Acostumei-me com o olhar

Vago, por incompreensão,

De quem quer acompanhar

Meu caminho verborrágico.

Sob um esforço hercúleo

Ou com o desprezo de Hera

Todos estranham o enigma

Da minha cognição-quimera.

Por faltar a inteligência

Facilmente encontrada

Na câmara da minha ausência

E na prática introjetada

Cerco-me de um mundo torto

Pelas margens do oculto

E, profundamente absorto,

Dou vazão à dicotomia.

O sol que me irradia

Não é o mesmo deste mundo,

Mas é também uma estrela

Num universo moribundo.

A palavra que ilumina

É aquela lá no fundo,

No cansaço da retina

E na rima com Raimundo.

Vasta é a dor latente

De quem a linha é curva,

Pois os pontos no caminho

Exigem intensa retidão.

No futuro, verei-me doente

Por ignorar a água turva

Onde afoguei o velho eu

Em troca de compreensão.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 14/01/2023
Código do texto: T7695238
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.