SINFONIA MATINAL
Mal o amanhã amanhece
e os ruídos já acordam a cidade
Carros se vão das garagens
pessoas saem de suas casas
camelôs arrumam as barracas
e burburinhos vêm da cozinha
anunciando que ainda estou vivo
antes mesmo do despertador avisar
Dizem que a luz é mais rápida que o som
porém previamente ao sol invadir a noite do quarto
o bulício que desadormece a cidade
retira-me do sonho e me coloca na realidade
O hoje em que me deitei há pouco é ontem
e do futuro presentificado nada sei
apenas que ele me chega aos tímpanos
acostumados aos velhos barulhos do passado
Às vezes me pergunto para onde vão as noites
e os sonhos que nelas foram depositados?
Deve haver em algum lugar
talvez no céu depois das nuvens
ou em um incerto paraíso vizinho encantado
parecido com aquele que na infância minha mãe me contava
para onde se vão os sonhos desencarnados
Quando rever meus sonhos desgarrados
quero reencontrar também os sonhos
que sonhei acordado depois de me levantar
reacendido pelos ruídos e murmúrios da cidade