Ode pequena ao esquecimento
vestidos não precisam de asas
lembram um pássaro voando
nos ventos de longe
num cardume podem mover o mar
nunca dês nome, a um vestido
nem tente lhe saber o sentido
sempre é outro vestido à passar
deitado no pensamento
em nenhumas coisas
nem outras
frescos, quase de orvalho
numa ondulação do tempo
não carece optar
porque tão pouco cabe
a versão mais gentil de um perfume
não atente para a estampa
que escorrega pelas ruas
a rua, assim, jamais cansa
o vestido que avança
havia de ser uma madrugada
na íntima sombra
do calor das madressilvas
mas, acaso o vestido acabar
não lhes, toque com a lembrança
de ainda disfarçar
que amanhece
guarde-o no esquecimento
de mãos distraídas
das outras vezes perdidas
em pássaros