Soli-tude

Não me deixe mais sozinho, eu te imploro!

Há tanto tempo eu venho sofrendo, e calado… Sei que por minha própria escolha, mas não me deixe definhar em frente a este espelho, tendo que olhar a mim mesmo, diariamente, ininterruptamente.

Eu não suportaria a minha própria imagem refletida cem mil vezes. Eu não aguentaria conviver com as intermináveis repetições do meu ego.

Não quero mais a solidão! Eu desisto! Eu aceito a minha derrota! Pensei que eu me bastasse, mas não! O tempo é o inimigo cruel de toda ousadia… O tempo transforma qualquer solitude em um inferno amargo chamado solidão. Para onde eu olho, me vejo, e nada além. E mesmo quando de olhos fechados eu me deito, me vejo!

Esgotei-me de tudo! Do que sou, do que fui e do que poderia ter sido. E em meio a esse esgotamento fatal, sinto que estou sumindo. Sou agora quase uma casca vazia. De tanto me encontrar, eu me perdi!

Sou mais um fracasso! Um fracassado que se achou superior ao mundo, que negou a humanidade dos que o cercam por pensar ser um super-homem. Mas finalmente percebi que sou tão descartável quanto os que eu descartei. Que sou tão vazio quanto o vazio daqueles que um dia eu afastei. Eu descobri que sou mais um ser humano, terrivelmente humano. Sem nenhuma dúvida, em cada um de nós, homens, mulheres, existe ao mesmo tempo, toda a escória da humanidade, o pior dos males, e a mais sublime das virtudes que alguém poderia alcançar.