Deixei a porta do meu coração entreaberta
Deixei a porta
Do meu coração
Entreaberta
Numa pulsação
Descompassada
Assim
Nem aberta
Nem fechada
Uma brecha
De ferida
Mal amada
Totalmente
Bordada
Pela cicatriz
Do tempo
Que na verdade
Não cura nada
Nem nada diz
De tão costurada
Ai, mas esta saudade
Feliz
De espectativa
Que fujo desenfreada
Por medo
E em segredo
A procuro
Desmedida
E calada
Acaba sempre
Escorregadia
Na lágrima silenciosa
Descolorida
No sorriso de veludo
Abafado
Que engulo
De alegria
E o entrego
Ao sentimento
Profundo
Bem cá dentro
Aconchegado
Cai a noite
No iluminado
Breu
Que abraça
O Mundo
Olho a calçada
Onde descansa
O céu
Na porta estreita
De madeira
De sombra enluarada
Estou eu
Há um pouco
De mim
Enfim
A parte que te procura
Numa reservada
Curiosidade
Com a fechadura
Da liberdade
Eu espreito
Assim mesmo
Ao meu jeito
Numa tímida
E nua
Loucura
No peito
Dança a ansiedade
Sofregamente
Animada
Com a tua
Aproximada
E lenta
Chegada!
Luísa Rafael
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Porto, Portugal