Deixei a porta do meu coração entreaberta

Deixei a porta

Do meu coração

Entreaberta

Numa pulsação

Descompassada

Assim

Nem aberta

Nem fechada

Uma brecha

De ferida

Mal amada

Totalmente

Bordada

Pela cicatriz

Do tempo

Que na verdade

Não cura nada

Nem nada diz

De tão costurada

Ai, mas esta saudade

Feliz

De espectativa

Que fujo desenfreada

Por medo

E em segredo

A procuro

Desmedida

E calada

Acaba sempre

Escorregadia

Na lágrima silenciosa

Descolorida

No sorriso de veludo

Abafado

Que engulo

De alegria

E o entrego

Ao sentimento

Profundo

Bem cá dentro

Aconchegado

Cai a noite

No iluminado

Breu

Que abraça

O Mundo

Olho a calçada

Onde descansa

O céu

Na porta estreita

De madeira

De sombra enluarada

Estou eu

Há um pouco

De mim

Enfim

A parte que te procura

Numa reservada

Curiosidade

Com a fechadura

Da liberdade

Eu espreito

Assim mesmo

Ao meu jeito

Numa tímida

E nua

Loucura

No peito

Dança a ansiedade

Sofregamente

Animada

Com a tua

Aproximada

E lenta

Chegada!

Luísa Rafael

Direitos de autor reservados

Porto, Portugal

Luísa Rafael
Enviado por Luísa Rafael em 06/01/2023
Código do texto: T7688368
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