Temperança
Temperança
Respiro a ar azul de um céu calado que me sustenta
Arrastado no pensamento por esta água lenta
Um movimento quieto em ondas que não amadurecem
O sentimento desperto em olhos fechados que não esquecem
O verde se estende em espelho abraçado na corrente
A água baloiça no joelho em cócegas num sinal dormente
O ouvido tem a curvatura de uma pauta musical
Talvez oiça a frescura que goteja no silêncio orquestral
Tudo é de um verdejante mesclado com a alma transparente
Uma brisa calma que até tem um cheiro calado quente
O pé molhado numa valsa que me convida para a dança
Numa maré descalça que se desfolha em espuma de temperança
Estou perdida nesta solidão estendida em água deserta
Entregue à imaginação solta e à deriva que de tão leve me liberta
Luísa Rafael
Direitos de autor reservados
Porto, Portugal