TRAVESSIA
Quanta pretensão é o sonho de ser nada,
feito se a vida concedesse este intervalo,
a fim de apagar o pavio em chama sépia
e, depois, reacendê-lo na cera da sua vela.
E, talvez, um grande amigo tenha acertado:
do cotidiano, do ralo dele, eu seja o poeta,
o dos ratos da rotina — e o tal desocupado,
entre os tacos da sala e a poeira da flanela.
No alto desta noite dona dum céu apagado,
há pouco. E onde estão as minhas moedas?