Limo Amadeirado

O cheiro amadeirado sobre a mesa,

um toque de estrelas na noite pura de saudades...

o frêmito da busca pelo outro, do encontro,

do doce sonho, mistério de coração de amor...

A necessidade de um ninho, de um lugar para aportar a alma,

um porto seguro onde amarrar a canoa da vida.

Perder-se, assim, no tempo e não mais se achar...

No entanto, a odisseia da alma também tem suas paragens...

um mundo ensombrado, um refletir na solidão,

o sol que declina, o ocaso de luzes...

Vivo entre o limo que sou e a luz

que desliza pura para minhas mãos de barro...

o vento forrando o chão...

o tempo pedindo asas pra sonhar...

a nuvem assoviando canções em meu anoitecer...

o pensamento emerge das brumas dos sonhos

e se faz vivo num velho diário de palavras...

E o poeta sempre tão perto das grietas de realidade,

da urgência do sofrimento, da dor pungente e forte,

da alegria e felicidade procuradas...

Cantando em si o mundo, o amor, a paz que faz sonhar...