ENTRE HERANÇAS E ESCOLHAS

Certo filósofo já disse

Que somos nossas escolhas

Mas não escolhi nascer menino ou menina

Nem calçar sapatos quarenta e três

Não decidi pensar em português

Embora ainda possa aprender Mandarim

Não é por isso que me tornarei chinês

Não me perguntaram se eu queria

Brotar brasileiro e surgir para o mundo

Vindo quase do meio do século passado

Sequer fui quem nomeei meus pais

Ser filho único e não os ver envelhecer

(se velhos têm cheiro de velhos

Meu olfato jamais foi treinado)

Quem disse que eu queria

Ter pegado sarampo, catapora e coqueluche

Ou ter sido por aquela professora alfabetizado?

(se como Rousseau comecei liberto

Tem muitas coisas em que ainda vivo acorrentado)

Não, não sou tão livre

Como aspira meu sonho de liberdade

Porém sou consciente das minhas intencionalidades

E se de uma coisa não posso escapar

É das escolhas que posso fazer

Nos limites herdados da minha ilimitada

Autonomia, autenticidade e aceitabilidade

Nos relativos espaços das inúmeras realidades

Aquele mesmo certo filósofo já disse

Que o que mais importa

Não é o que fizeram de mim

Mas sim o que é que eu faço

Com esse Joaquim que me fizeram

E lá atrás nem ao menos me perguntaram

Sou hoje tudo o que herdei

E sou responsável pelo meu legado

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 01/01/2023
Reeditado em 01/01/2023
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