ENTRE HERANÇAS E ESCOLHAS
Certo filósofo já disse
Que somos nossas escolhas
Mas não escolhi nascer menino ou menina
Nem calçar sapatos quarenta e três
Não decidi pensar em português
Embora ainda possa aprender Mandarim
Não é por isso que me tornarei chinês
Não me perguntaram se eu queria
Brotar brasileiro e surgir para o mundo
Vindo quase do meio do século passado
Sequer fui quem nomeei meus pais
Ser filho único e não os ver envelhecer
(se velhos têm cheiro de velhos
Meu olfato jamais foi treinado)
Quem disse que eu queria
Ter pegado sarampo, catapora e coqueluche
Ou ter sido por aquela professora alfabetizado?
(se como Rousseau comecei liberto
Tem muitas coisas em que ainda vivo acorrentado)
Não, não sou tão livre
Como aspira meu sonho de liberdade
Porém sou consciente das minhas intencionalidades
E se de uma coisa não posso escapar
É das escolhas que posso fazer
Nos limites herdados da minha ilimitada
Autonomia, autenticidade e aceitabilidade
Nos relativos espaços das inúmeras realidades
Aquele mesmo certo filósofo já disse
Que o que mais importa
Não é o que fizeram de mim
Mas sim o que é que eu faço
Com esse Joaquim que me fizeram
E lá atrás nem ao menos me perguntaram
Sou hoje tudo o que herdei
E sou responsável pelo meu legado