Passatempo
Assim passa meu tempo,
num passatempo afoito, atarefado,
represado, feroz.
Vai se agarrando no vazio,
se esgueirando no atroz,
escapando das flechas malvadas.
Que tempo descarado, esgarçado,
acaricia suas ancas cansadas,
desmantela o que se dizia tão rei.
Daí, vocacionado à razão, ao certo,
faz corrigir o destoado, o mal lavado,
faz remendar passos roucos, toscos,
faz acudir o que chorou demais, tão demais.
Meu tempo puído, repleto, lindo,
que trago no melhor coração,
no mais florido acolher.
Então nesse tempo já cumprido,
mergulho até desfolegar de vez,
e juntos, vamos à forra, à vitória,
celebrando gostos aprumados,
contemplando o melhor de tudo,
divinamente temperado.