DA CHAMA QUE AGONIZA
Porque próximo é o tempo doutro adeus
E o que há de ser será, desterro ou dor
No mundo mal amanhecido e estúpido
De esperança aviltada em desamor,
Persiste, réprobo aos banais, mais lúcido
Que o discurso da chama que agoniza.
Porque próximo é o tempo de estar só,
Sem cenário, sem máscara ou disfarce,
Que ser será ser só se há brio e força,
Assume as rédeas desse agora em fúria
À míngua de certezas e destinos,
Avesso a valsas, fantasias e hinos.
Porque o tempo é o carrasco das delícias
Fugazes, ossos em todo o caminho!,
Desdenha dessas distrações do espírito
Ao tempo mesmo em que, sorvendo o vinho
Da mais amarga safra, sai convicto
De ter no quanto é ser seu eu mais íntegro.
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