As flores que não me deste
As flores
Que não me deste
Afinal
Têm a água
Campestre
Da saudade
Num solitário
Esguio
E elegante
Que te espera
Timidamente
Em felicidade
Com sede
Matinal
Urgente
Aos meus olhares
De uma pureza
Satisfeita
Uma preciosidade
Que me deleita
E alimenta
Vou regando
Encantada
Todo o dia
Esta água fria
Lenta
Vazia
Quebrada
Pela parede
De cristal
Transparente
Florindo
Com subtileza
No imaginário
Quente
Sorrindo
À Primavera
Do coração
De profunda
Incerteza
E com alegria
Vou ao campo
Buscar a ilusão
Que me inunda
E não vem
E ali
Num canteiro
Bordado
Por ti
Em pensamento
Num recanto
Soalheiro
Abraço
O sentimento
Muitas cores
Pétalas doces
Recortadas
Com intensos odores
Que levo
Pelas verdes caminhadas
Fora
No fresco regaço
Das escondidas
Dores
Em tom de acolhimento
No vestido
Entregue ao vento
Que lhe assobia
E o ondula
Em sintonia
Um dia
Quem sabe
Neste meu vaivém
Perdido
Em que me engano
De prazer
Sejas tu
Esse alguém
Do meu querer
Que eu tanto chamo
Em silêncio
A me oferecer
As flores
Que não me deste!
Luísa Rafael
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Porto, Portugal