QUANDO O CASAMENTO DESCAMBA
Casamento, depois de anos, resseca, fica insosso,
o que era gostoso, vira desatino, vira tralha, vira ressaca, enferruja,
vira maçante toada.
Por mais suores perfumados vividos,
por mais sussurros safados espalhados,
por mais lençóis tatuados de paixão cerzidos.
A rotina, as mesmices. a falta de molecagens,
o sumiço das surpresas, os encardidos no querer-bem,
o mesmo reflexo no espelho, os mesmos cheiros, as mesmas texturas,
tudo contribui pro gostoso ir pro beleléu ladeira abaixo,
tudo ajuda pro tesão coalhar, fazer as malas e virar pó.
O tédio passa a reinar incólume,
corpos evitam se tocar, se olhar, se ungir de novo,
fogem um do outro com medo de se contaminar, de sei-lá-o quê.
Vão, então, se desgarrando numa deriva atroz,
até algum avistar outro porto aquecido num canto qualquer,
e decidir se embrenhar com sua trouxa, seus penduricalhos
e sua história, feliz toda vida.