um ano inteiro.

um ano inteiro,

e mesmo assim, não me tornei mais sábia.

porém, havia uma época em que meu corpo inteiro gritava quando via um buraco na calçada porque o meu dia não estaria completo se eu não passasse por ele, e permitisse que ele me derrubasse.

houveram dias em que eu passei horas debatendo comigo mesma sobre cortes,

e dor.

em como eu não a queria,

mas eu precisava dela.

porque tinha que valer a pena, de alguma forma.

era merecido, de alguma forma.

houveram dias em que eu lamentei a perda,

e dias em que agradeci a Deus por ela,

porque se eu não perdesse nada,

nada pareceria especial.

houveram dias em que eu quis gritar,

em que quis socar alguém, ou alguma coisa, mas

eu consegui me impedir.

e é claro, de vez em quando, não consegui.

houveram dias em que a placa brilhou com mais intensidade.

houveram dias em que eu não queria sair do banheiro.

nos quais chorei ao me ver no espelho,

e ver o que eu realmente me tornei.

houveram dias em que não reconheci meu reflexo.

em que flutuei por fora do meu corpo,

me vi lá embaixo,

agindo de uma forma ridícula

mas não consegui me conectar novamente e fazer algo a respeito.

houveram dias em que queimei pontes,

e dias em que construí.

não posso dizer que me tornei mais sábia nesse ano inteiro,

feito de diversos dias, cheios das mais variadas experiências.

mas posso dizer que quando passo meu buraco,

eu só penso em como ajudar alguém a não cair nele.

mesmo que ninguém tenha me ajudado.

houveram dias,

e haverão dias.

um dia, não mais.

e essa terá sido minha vida.

e a sua.

o que você tem feito com os seus dias, quando você sabe

que não os terá infinitamente?