O TEMPO DA ETERNIDADE

Não mais teu rosto será o mesmo

como no dia em que nos conhecemos

naquela antiga livraria

você lendo O Vermelho e o Negro

e eu folheando versos de Neruda e Mistral

Não mais o acanho do primeiro toque

dos meus dedos triscando os teus

de unhas esmaltadas combinando

com a cor suada dos lábios

nem o estranhar das línguas

a se entrelaçarem feito dois estrangeiros

Não mais a sinfonia da prévia conversa

me cariciará os tímpanos com o som

que te vinha lá do fundo do universo

onde moram os anjos no céu poético

que me ofertastes em olhares feiticeiros

revelados por detrás dos teus olhos delicados

Não mais minha camisa guardará teu perfume

como um invasor a conquistar territórios

sequer o súbito arrepio em minha pele

se repetirá de novo como no dia

em que nos conhecemos

naquela antiga livraria

você lendo O Vermelho e o Negro

e eu folheando versos de Neruda e Mistral

A eternidade dura um dia

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 22/12/2022
Reeditado em 22/12/2022
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