O TEMPO DA ETERNIDADE
Não mais teu rosto será o mesmo
como no dia em que nos conhecemos
naquela antiga livraria
você lendo O Vermelho e o Negro
e eu folheando versos de Neruda e Mistral
Não mais o acanho do primeiro toque
dos meus dedos triscando os teus
de unhas esmaltadas combinando
com a cor suada dos lábios
nem o estranhar das línguas
a se entrelaçarem feito dois estrangeiros
Não mais a sinfonia da prévia conversa
me cariciará os tímpanos com o som
que te vinha lá do fundo do universo
onde moram os anjos no céu poético
que me ofertastes em olhares feiticeiros
revelados por detrás dos teus olhos delicados
Não mais minha camisa guardará teu perfume
como um invasor a conquistar territórios
sequer o súbito arrepio em minha pele
se repetirá de novo como no dia
em que nos conhecemos
naquela antiga livraria
você lendo O Vermelho e o Negro
e eu folheando versos de Neruda e Mistral
A eternidade dura um dia