COTIDIANOS
COTIDIANOS
Diante da folha vazia,
pergunto-me nos dias:
por que dessa teimosia
de decifrar a cartografia
codificada das suas linhas,
e converter esta engenharia
em versos de tal desarmonia,
onde a canção mora escondida
na nota muda de uma sílaba?
E não importa que eu repita
mil vezes a mesma tentativa
— jamais e nunca a traduziria.
Às dezessete, a tarde anuncia
o seu alarme: a minha asfixia
sobre a mesa cheia de cinzas
— e sobem entre as alvenarias
do quarto, tingidas de nicotina.
— E é tudo o que sobrou, ainda.