NUNCA MAIS
Nunca mais esta quarta-feira
Nunca mais
Debaixo do sol do dia
e do olhar alheio das estrelas
nenhum dia é igual a outro dia
Nunca mais
Não haverá outra vez quarta-feira
o porteiro gripado
o semáforo apagado
o carro quebrado
o pedinte atrasado
a comida estragada
aquela topada
a bolsa na esquina roubada
e a criança chorando
na casa vizinha do lado
Nunca mais
Nunca mais verei de novo
o mesmo pássaro voando entre as árvores
o ônibus lotado com as mesmas pessoas
o idêntico minuto do minuto passado
o igual odor dos bueiros
o mesmo filho ser enterrado
a moça sentada no banco da praça
com as pernas cruzadas
esperando talvez o namorado
enquanto a bicicleta passa no buraco encharcado
salpicando água enlameada na calçada
Nunca mais te abraçarei desse jeito
como te abracei no meio da madrugada
quando acordastes assustada
no instante em que entrei no quarto
para visitar teus sonhos quietos e calados
Nunca mais terei esta fiel idade
que logo se vai
no interior desta quarta-feira
que de novo jamais se repetirá
Nunca mais
Mais uma vez e como sempre
esta quarta-feira nunca mais irá retornar
nem na próxima quarta-feira
que estiver no seu lugar
Nunca mais