fiz o que pude
(ou ‘quase tudo’)
“... mas ‘quase’ também é mais um detalhe...”
(“detalhes”, roberto e erasmo)
sempre faço o que eu posso
no entanto, tão pouco posso...
não tenho o botão power ao meu alcance
teria o pause?
não tenho a claquete do diretor, pra gritar “corta”
(os filmes antigos têm “the end” escrito no final. os novos não. ou por subentender-se ser, de fato, o fim, ou para que o expectador imagine uma continuação da estória)
nem controle remoto
nem claquete
não tenho nada
nada me pertence
e não me pertenço
não como gostaria
tenho apenas um pedaço de mim
e não sei se eu suportaria
me pertencer totalmente
minha casa é meu umbigo
minha casa está em reforma
minha varanda, meu varal...
meu jardim
eu, jardim para princesas e sapos
eu, jardim de mim
meu capim melado
meu doce lar
é uma reforma sem tinta ou homens trabalhando
é obra de contemplação calada
sobras de vontade velada
potência de vontade
quase penitência
quase impotência
quase bem, quase mal
como o amor
rascunho de amor
é isso
rascunhei amor
e sigo rascunhando
traços, rabiscos
e nesse mundo
traços e rabiscos são tudo o que temos
quase tudo
é o nosso interminável ensaio
preciso aprender a gozar o ensaio
e esquecer o show por vir.
(mendes, dezembro de 2007)