NÃO HÁ MAIS GALOS NA CIDADE

Não há mais galos nas cidades, João

apenas prédios, asfaltos e calçadas cimentadas

a receber o manto esfriado das madrugadas

Não há mais casas nem quintais

os terrenos baldios foram sepultados

e as minhocas saíram da terra despejadas

Não há mais tanajuras nos dias de chuva

nem centopeias andando nos gramados

sequer se ouve hoje o cantarolar dos canários

Certa vez um pombo tolo se encantou

com sua imagem refletida na janela

espelhada de um elevado empresarial

e se espatifou caindo no chão da garagem

As poucas lagartixas que ainda há

não atravessam ruas para não serem atropeladas

e crianças brincam com sapatos nos playgrounds

Não há mais galos na cidade, João

e as manhãs vão se tecendo sozinhas

desamparadas e silenciosamente abandonadas

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Uma homenagem a João Cabral de Melo Neto e seu poema "Tecendo a Manhã".

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 10/12/2022
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