A face da tristeza

Uma irretocável feição,

Contornos de uma face

Por tão melancolicamente inerte,

De real triste beleza sucumbe

Ao fitá-la perco meus mundos

Mudos todos, ocultos

Enclausurada temo

A estação fria nos ermos

Olhar-te inspira

O mais desiludido poeta

Quem desistiu da beleza do mundo

Padece tanto... Sou eu este poeta?

As lágrimas da própria tristeza

Os lábios que tremem

As nuances azuis

Os desnudos véus

Ante a solidão

Quem a teme, nada tem

A salvação de um belo ser

É ser de um todo esquecido

A face que me sorri

Chora ao mesmo tempo

É a vida que enlutada

Clama por minha imersão

Emergindo de um escuro lago,

Sou os ermos e as negras plantas

Verde - escuro sou

E todo o fluxo de águas imortais

E ressurjo coberta em lôdo

Nada límpido é o sentir

Aos instantes das catástrofes

Só me vale vivê-las em mim

Teu rosto é de luto.

Quem morreu, oh divindade?

Acho beleza no lamento

Dos seres infelizes

Quantos mais, quem mais,

Quantas flores mais?

E sabiás, pardais e borboletas...

Que vida nos aqui sustentará?

Em vão eu desejo-te ver

Aos olhos, é como ver no escuro

Nada aparenta em verdades

Tudo sucumbe pela arte do ser

Que belos olhos, grandes olhos! Tristes!

Olhos de quem não vai suportar

E uma tragédia irá viver.

Olhos da vida, minha vida

A face da tristeza

- meu olhar - basta no espelho ver.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 10/12/2022
Reeditado em 31/03/2023
Código do texto: T7669163
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