A face da tristeza
Uma irretocável feição,
Contornos de uma face
Por tão melancolicamente inerte,
De real triste beleza sucumbe
Ao fitá-la perco meus mundos
Mudos todos, ocultos
Enclausurada temo
A estação fria nos ermos
Olhar-te inspira
O mais desiludido poeta
Quem desistiu da beleza do mundo
Padece tanto... Sou eu este poeta?
As lágrimas da própria tristeza
Os lábios que tremem
As nuances azuis
Os desnudos véus
Ante a solidão
Quem a teme, nada tem
A salvação de um belo ser
É ser de um todo esquecido
A face que me sorri
Chora ao mesmo tempo
É a vida que enlutada
Clama por minha imersão
Emergindo de um escuro lago,
Sou os ermos e as negras plantas
Verde - escuro sou
E todo o fluxo de águas imortais
E ressurjo coberta em lôdo
Nada límpido é o sentir
Aos instantes das catástrofes
Só me vale vivê-las em mim
Teu rosto é de luto.
Quem morreu, oh divindade?
Acho beleza no lamento
Dos seres infelizes
Quantos mais, quem mais,
Quantas flores mais?
E sabiás, pardais e borboletas...
Que vida nos aqui sustentará?
Em vão eu desejo-te ver
Aos olhos, é como ver no escuro
Nada aparenta em verdades
Tudo sucumbe pela arte do ser
Que belos olhos, grandes olhos! Tristes!
Olhos de quem não vai suportar
E uma tragédia irá viver.
Olhos da vida, minha vida
A face da tristeza
- meu olhar - basta no espelho ver.