Retalhos
Olê Mulher rendeira
Olê Mulher rendá
Sigo seco sem te ter
Beirando beco do meu ser
Mentindo sempre a alcunha
Sangue debaixo das unhas
Pólvora molhada
Evitar guerra
Olê Mulher rendeira
Olê Mulher rendá
Sem nunca ter te tido
Tenho sair do desalinho
Escapar da reta da navalha
Palavras que cortam de Bethânia
Maiakóvski e a quilha
Mas sigo sendo
Sem nunca ser
Sem nunca ter sido
Por ser velho tecido
O vestido se esfiapa
e o coração reluz retalhos,
O chão já nasce deitado
A cor é suja e desbotada
É teia com rachadura
O crepom já não mais brilha
Olê Mulher rendeira
Olê Mulher rendá
Cada veia é um fio
Dessa lenta costura
Cada artéria passa um rio
No meu processo de cura
a arte me dá sentido
visto manto da semântica
teço o fio do vestido
Germino a semeadura