Ai, nuvem bendita
Ai, nuvem bendita
Que ias a passar
No teu doce deslizar
Como que a dançar
Numa bela superfície
Azul planície
Paraste para olhar
A minha alma aflita
A soluçar
Olhos embargados
De brilho inundados
Amargar
Pousados no chão
A conversar
Numa monótona solidão
Mas num pestanejar
Distraída
Foi um saltar
De emoção
Um alívio
Auxílio
Ao atormentado coração
Subitamente
A nuvem ali parada
Mudou de cor
Talvez por sensibilidade
À minha dor
Extravasada
Por lágrimas a fio
Como um rio
Sem ter onde desaguar
Neste tímido chorar
Começou a chover
Não tinha onde me abrigar
Os olhos fechei
E deixei-me levar
Por esta água abençoada
Com lágrimas misturada
No meu corpo a viajar
A roupa ao corpo abraçou
E curiosamente
Estando molhada
Senti-me aconchegada
Nesta libertação
Outrora
pesada
Agora
Revigorada
A nuvem partiu
Para outro lugar
Sorriu
Na sua amabilidade
E deixou na minha mão
A leveza
Dos seus flocos de algodão
Em fios de felicidade!
Luísa Rafael
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Porto, Portugal