Ai, nuvem bendita

Ai, nuvem bendita

Que ias a passar

No teu doce deslizar

Como que a dançar

Numa bela superfície

Azul planície

Paraste para olhar

A minha alma aflita

A soluçar

Olhos embargados

De brilho inundados

Amargar

Pousados no chão

A conversar

Numa monótona solidão

Mas num pestanejar

Distraída

Foi um saltar

De emoção

Um alívio

Auxílio

Ao atormentado coração

Subitamente

A nuvem ali parada

Mudou de cor

Talvez por sensibilidade

À minha dor

Extravasada

Por lágrimas a fio

Como um rio

Sem ter onde desaguar

Neste tímido chorar

Começou a chover

Não tinha onde me abrigar

Os olhos fechei

E deixei-me levar

Por esta água abençoada

Com lágrimas misturada

No meu corpo a viajar

A roupa ao corpo abraçou

E curiosamente

Estando molhada

Senti-me aconchegada

Nesta libertação

Outrora

pesada

Agora

Revigorada

A nuvem partiu

Para outro lugar

Sorriu

Na sua amabilidade

E deixou na minha mão

A leveza

Dos seus flocos de algodão

Em fios de felicidade!

Luísa Rafael

Direitos de autor reservados

Porto, Portugal

Luísa Rafael
Enviado por Luísa Rafael em 04/12/2022
Código do texto: T7664231
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