FALANDO DO AMOR
Falar do amor exige paciência e candura na alma,
algo como torpor juvenil ou arrepio causado por sopro na nuca,
talvez uma certa irreverência rústica. alvissareira.
Falar do amor é algo sagrado, carimbado nos céus,
que desafina afinando, que titubeia acertando o passo,
revira a noite do avesso até virar descaso, virar sumo.
Falar do amor convoca seixos abruptos, afincos,
daqueles que permeiam os chãos a serem untados,
daqueles que dão canseira às nossas asneiras fugazes.
Falar do amor revida o ódio em flor, a dor em brisa,
deixa os mestres surrados, feitos baratas-tontas,
deixa Deus arrependido de ter nascido.
Falar do amor extrai sumos da fé, do destino,
castiga os medos e a compaixão como nunca se quis,
esmorece as garras puídas da verdade em réstias mil.
Falar do amor aguça fôlegos e destrona rebarbas,
traz à tona estopins atônitos à cata da luz,
reverbera o sangue numa purpurina linda.
Falar do amor enobrece o que foi apedrejado,
acaricia as têmporas soturnas da paixão,
deixa o tempo pianinho e a voz de peito erguido.
Falar do amor é premente, mandatário solene,
esvai rastros atracados de querer- bem,
acena pro melhor com todo seu reinado,
com todo seu passo sorrateiro e feliz.