PICCOLO FINALE
Depois das vinte e uma e um, um bafo escapa
através da moldura do vento da janela vazada
(formada de hastes e bordas de ferros curvados
no maçarico, da vida e da sua temperatura alta).
Aqui, como sempre, meu cérebro, sua imagem.
Larguei o receio de insistir neste único cenário,
pois dois versos não são iguais e, mesmo iguais,
sejam escritos sob a aurora ou sobre um ocaso.
Cada feixe leva no seu tempo a sua cor exalada,
breve e, ineditamente, tremida e muito instável.
Na cartografia distante das paredes da sua casa,
posso ver você deitada, com aquele combinado
de malha (short curto e blusa pouca e folgada),
e é quando o eletrocardiograma da minha alma
transborda os limites da fita e o da tinta, e falha.
Você não tem a menor ideia nem a capacidade
de medir a escala desmedida de todo o estrago
que essa ausência causa neste agora, às 23h54.
E o poema abriu falências. E é assim que acaba.