PEQUENO POEMA DOMINICAL

Roubei do domingo o tédio

e embriagado de monotonia

afundei-me no sofá

vendo o teto passar

sob o céu branco do meu dia

Invadido então de nostalgia

volto a sentir os nervos da saudade

latejando em mim como uma neuralgia

Os domingos de ontem eram vistosos

vestidos de meninice e magia

e enquanto meu menino brinca

hoje vadio pelas sinapses da memória

atravessando a ponte do tempo

como em Recife atravesso rios

Flutuo assim entre os intervalos

das nuvens porosas das lembranças

que nem um pássaro voejante

em busca de ao seu ninho regressar

Toda vez que viajo aos sítios

e aos cantos e vilarejos dos meus interiores

é como se em mim eu me tornasse

um imenso e demasiado domingo

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 02/12/2022
Reeditado em 02/12/2022
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