CODINOME POESIA

Nas horas vagas não leio poemas

mas sim recolho versos

catados nos chãos do cotidiano

e colando-os com afetos

restauro vasos quebrados

comumente apelidados de poesia

Pego emprestado do passado meu menino

encobrindo-o com palavras furtadas dos dicionários

como um pintor que retira do céu acima

um pedaço do azul a pincelar pinturas

Não sou escultor, músico ou sequer artista

apenas um artesão das falas escritas

que molduradas as cravo nas paredes

dos corredores em que atravesso a vida

Sou um Platão revisado

a perceber o abstrato das ideias

em que se assentam o palpável dos concretos

e o visível oscilante das sombras passantes

projetadas no oco das cavernas dos dias

E como um orador dos embutidos e dos silêncios

vou pelo mundo afora como um louco

tagarelando a ouvidos moucos descobertas

que não são minhas, mas são da nudez poética

daquilo que comumente apelidamos de poesia

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 01/12/2022
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