CODINOME POESIA
Nas horas vagas não leio poemas
mas sim recolho versos
catados nos chãos do cotidiano
e colando-os com afetos
restauro vasos quebrados
comumente apelidados de poesia
Pego emprestado do passado meu menino
encobrindo-o com palavras furtadas dos dicionários
como um pintor que retira do céu acima
um pedaço do azul a pincelar pinturas
Não sou escultor, músico ou sequer artista
apenas um artesão das falas escritas
que molduradas as cravo nas paredes
dos corredores em que atravesso a vida
Sou um Platão revisado
a perceber o abstrato das ideias
em que se assentam o palpável dos concretos
e o visível oscilante das sombras passantes
projetadas no oco das cavernas dos dias
E como um orador dos embutidos e dos silêncios
vou pelo mundo afora como um louco
tagarelando a ouvidos moucos descobertas
que não são minhas, mas são da nudez poética
daquilo que comumente apelidamos de poesia