Cotidiano Engraxate
Num ônibus/
Da avenida paulista/
Seguia orfegante/
Um senhor de meia idade/
Com cara de entristecido/
Mal cuidado/
Embora vivo/
Parecia esquecido/
Não fazia par/
Com os demais indivíduos/
Mais parecia um mendigo/
Com seu instrumento de trabalho/
Graxa, flanela é uma caixa de madeira/
Um ou dois centavos as mãos/
No entanto/
Ele estava andando/
A horas atrás de serviço/
Já esmaecido/
Sem forças/
Mais uma vez/
Se dava por vencido/
Mas seguia a se perguntar /
O que eu ei de falar/
Para os meus menos favorecidos /
Já que voltava/
Sem nada pra dar/
Seus filhos paridos/
Menores ainda/
Sem entender/
Pediam comida/
Olhou a mulher/
Na cama de chão/
Ali a fazer outra barriga /
Pensou passou a mão/
Sobre o juízo/
E voltou com as lágrimas/
Dos seus filhos/
E a dor de sua mulher/
Como combustível/
Sob a chuva/
Sob a miséria/
Se instalou na estação da sé/
Fez seu pedido/
Um ou dois cidadãos/
Compadecidos/
Pagaram pelo serviço/
Uma senhora atendeu/
E na perseverança/
Do que o dia rendeu/
Já era outro/
Com disposição/
Com dinheiro na mão/
Voltou a noite pra casa/
Já levando a alimentação/
Pra o que seria/
Uma alegria/