10h50 — ainda —

No devagar depressa do tempos…

Guimarães Rosa

Busco aquele verso embutido na desimportância,

pois é dela o calibre predominante e a fragrância

do elixir do poema que importuno — mesmo antes

da minha sina de assistir às olarias dos amanhãs…

Há os desertos sobre as poeiras que se atravancam

na cerâmica dos cômodos da casa, entre as sancas,

nas teias altas que balançam, nas dobras das camas

caladas e por dentro do vermelhão vivo da varanda.

Há as percussões das xícaras sem o café da manhã,

as cores transeuntes ao redor das horas cotidianas,

e a pedra devagar e depressa da rotina, esta anfitriã

que esfarinha os ossos, muda, num segredo de divã.

Às dez e cinquenta, sinto o alumínio elétrico do dia.

E tudo em mim escoa, mas anseia ser poesia, ainda.