Não sei se me vês
Não sei
Se me vês
Ou sequer
Me lês
Se abres
O envelope
Da saudade
Com um perfume
Suave
Que se solta
Em liberdade
E te invade
Com palavras loucas
De desejos escondidos
Reservados
Contidos
Em linhas vazias
Nuas
E enigmáticas
Vadias
De mágicas
Feitiçarias
São letras despidas
Puras
Numa nudez
Com sombras
Atrevidas
Que não consigo
Conter
Letras em que tropeço
Entalada
Na minha timidez
Amordaçada
E que desfilam
Impacientes
Numa corrida
Para o teus olhos carentes
De me ter
Talvez não seja o teu querer
Talvez nem as queiras entender
Talvez os teus ouvidos
Se escondam
Numa mascarada surdez
Talvez os olhos se percam
No conflito
Dos sentidos
E da mente
Talvez nem queiras saber
Que as rastejo
Docemente
Numa tinta dourada
Que as beijo
Num grito
De paixão
Nas noites tardias
Lentas e infinitas
Em que até as estrelas
Bonitas
Se perdem
Na escuridão
Talvez seja em vão
Ou não
A minha ilusão
E o tempo
Avança
Sem contemplação
Arrasta palavras
Numa dança
Sensual
De encanto
Num doce verso
De um amor expresso
Que quero tanto
E no silêncio da espera
Nos ponteiros
Do teu regresso
Que orientam
O momento
Em que decifro
O teu sentimento
Eu me confesso!
Luísa Rafael
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Porto, Portugal