Pequenas histórias 290
É Natal
É Natal...
Transa-se nas coxas a vida farta de alimento podre da fome.
Sorrisos tristes alegram a mesa farta de assassinos
Pela janela dos apartamentos escorrem sangue inocente
Os brilhos dos enfeites escondem o brilho das favelas
É Natal...
Lágrimas prateadas caem do topo dos edifícios
Apagam as pegadas do passado embevecido de luzes
Espocam bolhas nas sete ondas da felicidade esperançada
Iemanjá revela à alegria que não a encontro
É Natal...
Em mil pedaços trincha-se o pernil da família unida
Abrem-se vinhos envelhecidos na labuta do salário mínimo
Beijos em faces enrugadas sugam a vivacidade juvenil
Braços em amplexos cantam hinos ao aniversariante
É Natal...
Repetem-se clichês mecanicamente vazios de entusiasmo
Até mesmo esse poema fajuto não deixa de ser um clichê dele mesmo
Assim mais uma vez fecham-se as cortinas dos festejos e brinquedos
Morremos a cada brinde ao abrir do champanhe barato