Pequenas histórias 290

É Natal

É Natal...

Transa-se nas coxas a vida farta de alimento podre da fome.

Sorrisos tristes alegram a mesa farta de assassinos

Pela janela dos apartamentos escorrem sangue inocente

Os brilhos dos enfeites escondem o brilho das favelas

É Natal...

Lágrimas prateadas caem do topo dos edifícios

Apagam as pegadas do passado embevecido de luzes

Espocam bolhas nas sete ondas da felicidade esperançada

Iemanjá revela à alegria que não a encontro

É Natal...

Em mil pedaços trincha-se o pernil da família unida

Abrem-se vinhos envelhecidos na labuta do salário mínimo

Beijos em faces enrugadas sugam a vivacidade juvenil

Braços em amplexos cantam hinos ao aniversariante

É Natal...

Repetem-se clichês mecanicamente vazios de entusiasmo

Até mesmo esse poema fajuto não deixa de ser um clichê dele mesmo

Assim mais uma vez fecham-se as cortinas dos festejos e brinquedos

Morremos a cada brinde ao abrir do champanhe barato

Pastorelli
Enviado por Pastorelli em 28/11/2022
Código do texto: T7659673
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