MONUMENTO AO ESCRAVIZADO SEM NOME

O sonho só pode se dar em tonalidades de cinza,

porque a realidade é uma sentença com preço.

Precária na forma como se equilibra na miséria,

sustentada pelas ripas onde se assenta o medo.

Quis saber do futuro, onde a fé tem arreios,

mas diz-se que acordar já é muito para o dia.

O mundo está além da grade, do vidro e da fome.

E nos quer para rebanho ou desculpa do silêncio.

Precisa-se saber do movimento das nuvens

e dos muros que nos separam com farpas e fuzil.

Precisa-se saber dos nomes apagados no mar

e do que nos cabe dessa herança de sangue e tristeza.

Foi assim, e o pensamento se desbotou no asfalto,

pisoteado pelo invisível poder que inventou o divino.

Precisa-se saber do levante dos feios e retintos,

dos divergentes e das virgens Marias enlutadas.

Porque morre-se em nome do inevitável estabelecido,

sem nome concreto onde é proibido até mesmo o grito.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 27/11/2022
Código do texto: T7658812
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