MONUMENTO AO ESCRAVIZADO SEM NOME
O sonho só pode se dar em tonalidades de cinza,
porque a realidade é uma sentença com preço.
Precária na forma como se equilibra na miséria,
sustentada pelas ripas onde se assenta o medo.
Quis saber do futuro, onde a fé tem arreios,
mas diz-se que acordar já é muito para o dia.
O mundo está além da grade, do vidro e da fome.
E nos quer para rebanho ou desculpa do silêncio.
Precisa-se saber do movimento das nuvens
e dos muros que nos separam com farpas e fuzil.
Precisa-se saber dos nomes apagados no mar
e do que nos cabe dessa herança de sangue e tristeza.
Foi assim, e o pensamento se desbotou no asfalto,
pisoteado pelo invisível poder que inventou o divino.
Precisa-se saber do levante dos feios e retintos,
dos divergentes e das virgens Marias enlutadas.
Porque morre-se em nome do inevitável estabelecido,
sem nome concreto onde é proibido até mesmo o grito.