Deserto

Na solidão/

De minhas decisões/

Andei sem saber/

O que fazer/

Pelas ruas da veia industrial/

Embora tivesse nas mãos/

O segredo material/

A certeza da tua paixão/

Repetidas vezes /

Falar-me com fervor/

Do teu imenso amor/

Me fiz mercador/

Insensato e frio, que já nem ouvia/

Olhava pra você/

Como quem olha pra qualquer flor/

Assim seguia/

Tanto, que qualquer beleza me prendia/

Fulgaz/

Busquei em outra/

Companhia/

Um porto seguro/

Pra me dizer de mim/

O que ainda procuro/

Encontrei o prazer/

Sem qualquer futuro/

Por mais que eu insistisse/

Me sentia preso/

Entre muros/

No que vivi oportuno/

Olhei nos olhos/

Procurei no corpo/

A alma/

Procurei no cheiro/

Até beijei a boca/

Que estava seca/

Mas não encontrei você/

De tanto me servir/

Que me envolvi/

A ponto tomar cicuta/

Fiz morrer as entranhas/

Me negar e ficar impuro /

Quando dei por mim/

Já na Paulista/

A perder-me de vista/

Resolvi sair e seguir solista/

Tão puras como a pedra bruta/

Tão farta como a malícia/

Encherte-me de culpa/

Como consumidor comprando pecado/

Sob a visão curta/

Só fiz me envenenar pra morrer /

Porque o amor /

Aquele que se comunica/

Aquele que se acredita /

É inegociável/