Renovação
Renovo os escritos inscritos
Deito-me em paz, perco a calma
Minhas palavras são gritos
Vociferantes, mudas em minh'alma
Enquanto a solidão me consome
Corta minhas carnes, come…
Sou como um alto falante emudecido
Um odre prestes a arrebentar
Do meu coração ouve-se um rugido
O bater de asas, um leve farfalhar
Cerro os olhos...
Encontro comigo mesma num instante
Há espinhos, cardos e abrolhos
Todavia não paro, sigo adiante
Entro no labirinto dentro de mim
Jogo migalhas pelo caminho
Mesmo no início parece meu fim
Porém encontro o lagar
Uvas maceradas, mosto, vinho…
E sinto um breve renovar
No caminho vejo uma porta fechada
A maçaneta, de alma, manchada
Abro então com diligência
Pois sou quem possui a chave
Dentro encontro perdida a inocência
Há muito levada por uma velha ave
Que as migalhas do labirinto comeu
Deixando-me inteiramente perdida
Apenas consciente da vida
Até renascer um novo eu
Mais forte, mutante, debilitada
A antiga de mim, porém, não morreu
Uniu-se à nova e fez uma estrada
No labirinto onde me corto e me curo
Onde encontro de mim o ser mais puro
Por vezes andando em cima do muro
Aguardando novo refrigério
Um pouco de bálsamo sobre o cautério
Mas agora sem buscar migalhas no chão
Decidida estou em minha decisão
Um ente consciente de sua missão
De vez após vez renovar minhas penas
Através do labirinto decodificado
Gritando à alma, mandando o recado
Gravando de novo, cambiando as cenas
Tendo o coração outra vez renovado
Deixando de novo o labirinto
Pintada a tela onde pinto e repinto
Abrindo e fechando a porta da cela...
Texto inspirado na poesia "Fronteiras", da poetisa Ane Rose.