Sent_ido

Já não tenho a pressa de existir

Aceitei - ainda que as lágrimas empedradas

que ora esfolam meu rosto

pareçam discordar -

que os dias são, agora, resultado inevitável

dos anos que trago nas costas,

que as sementes fundamentais

são agora as dos frutos que não me lambuzarão a boca

Que é o gozo do tempo presente

meu maior deleite

E memórias são o conforto para os dias

de sol que gela

de chuva que escalda

e certificações de que estive bem viva

mesmo quando - e talvez principalmente - diante da morte

Por isso o coração em carne viva

Por isso o sangue fervilhante,

a língua que não se desculpa por cumprir seus turnos,

os pensamentos em velocidade incalculável

a vontade irremediável de inteirezas

E o desprezo absoluto por meias verdades

Não há espaço para listas ilusórias

O tempo é de adeus para as pedras do caminho

Me abrigo no vento e é de carne e osso

a sintomática morada de tudo

o que fui,

de tudo o que estou.

Elen Rodrigues
Enviado por Elen Rodrigues em 20/11/2022
Reeditado em 20/11/2022
Código do texto: T7653758
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