Sent_ido
Já não tenho a pressa de existir
Aceitei - ainda que as lágrimas empedradas
que ora esfolam meu rosto
pareçam discordar -
que os dias são, agora, resultado inevitável
dos anos que trago nas costas,
que as sementes fundamentais
são agora as dos frutos que não me lambuzarão a boca
Que é o gozo do tempo presente
meu maior deleite
E memórias são o conforto para os dias
de sol que gela
de chuva que escalda
e certificações de que estive bem viva
mesmo quando - e talvez principalmente - diante da morte
Por isso o coração em carne viva
Por isso o sangue fervilhante,
a língua que não se desculpa por cumprir seus turnos,
os pensamentos em velocidade incalculável
a vontade irremediável de inteirezas
E o desprezo absoluto por meias verdades
Não há espaço para listas ilusórias
O tempo é de adeus para as pedras do caminho
Me abrigo no vento e é de carne e osso
a sintomática morada de tudo
o que fui,
de tudo o que estou.