NO DIA
No dia em que me arrancarem a pele
os músculos, os nervos, os ossos
e dissecarem minhas vísceras
e o interior intestinal das entranhas
restar-me-á tão somente a alma
essa impalpável desconhecida entidade
que leva como apelido meu nome
No dia em que nenhuma carne me sobrar
a me enroupar para fora e me encher por dentro
fazendo-me um corpo a perambular
pelos vazios espaços do tempo
haverá de subsistir as lembranças
que trago no lado interno do que penso
No dia em que eu for evaporar
no transmutar de mim ao vento
irei me enxertar de partículas de águas liquidas
formando-me em nuvem suspensa
a flutuar sobre as cabeças dos sobreviventes
para no dia em que for voltar chovendo
irrigar o terreno das flores que deixei
nos anos que por aqui passei
antes desse meu posterior reaparecimento