NO DIA

No dia em que me arrancarem a pele

os músculos, os nervos, os ossos

e dissecarem minhas vísceras

e o interior intestinal das entranhas

restar-me-á tão somente a alma

essa impalpável desconhecida entidade

que leva como apelido meu nome

No dia em que nenhuma carne me sobrar

a me enroupar para fora e me encher por dentro

fazendo-me um corpo a perambular

pelos vazios espaços do tempo

haverá de subsistir as lembranças

que trago no lado interno do que penso

No dia em que eu for evaporar

no transmutar de mim ao vento

irei me enxertar de partículas de águas liquidas

formando-me em nuvem suspensa

a flutuar sobre as cabeças dos sobreviventes

para no dia em que for voltar chovendo

irrigar o terreno das flores que deixei

nos anos que por aqui passei

antes desse meu posterior reaparecimento

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 17/11/2022
Reeditado em 18/11/2022
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