Estátua de carne e osso
Estátua de carne e osso
Sou uma escultura vestida com o brilho polido da nudez
Perdida ao vento num pedestal de loucura e altivez
Tenho sentimento nos intersticios pulsantes de carne e ossos
Escorrem gotas lacrimejantes de suplícios dos meus alvoroços
Entrego ao mundo a roupa que não me serve e aprisiona
Nesta estrutura louca é a alma que em liberdade a abandona
Não gosto de linhas etéreas esculpidas e macilentas
Paradas e sérias nas descoloridas horas lentas
Preciso de rasgar um sorriso por entre os nobres materiais
Posar arrojada com regozijo em insanidades banais
Neste deserto que me perdoa os pecados mortais
Percebo que me alimento de tudo que me toca e me doa
A afectuosidade que me habita é tanta que atordoa
Para que serve o pensamento que grita se na verdade ele não voa?
Luísa Rafael
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Porto, Portugal