Piolho de cobra

Na madrugada

Penso, penso, penso.

Coço a cabeça

Mas nada compreendo

Na barriga as lombrigas se reviram

Grito para o mundo

Mas as pessoas que estão

Em minha volta parecem que estão surdas

Ou não esta me vendo

Não entendo porque estou vivendo este tormento

Entre minhas pernas

Passa discretamente

Um piolho de cobra

Mas que bicho nojento

Corro pela casa

De chinelo na mão

Após encurralar o bendito bicho

Dou umas três chineladas

Mato até sua alma

Com tanta força

E arranco uma lasca do piso

Chega minha esposa

Pulando parecendo saci perere

Gritando, gritando

Perto do meu ouvido

Mate este monstro

Os meninos podem ser mordidos

Eu olho para ela

Já esta morto

O bendito bicho, querida.

No quarto as crianças dormem

Parecendo dois anjos

Lá fora chove

Noite boa para se dormir

Então porque eu não consigo

Da minha mente

Derramam-se letras

Como a água da chuva

Que cai no telhado de minha casa

Se misturando com lixo encontrado no quintal

Deixado pelo vento que trouxe da rua

As letras se juntam formando

No papel um quebra cabeça

Sem forma, sem rumo, sem direção.

Na televisão

Esta passando um filme de terror

Mas dou risada

Já se passa da meia noite

Na mesa da cozinha

Sentado em minha cadeira

Joelho no queixo

Fico olhando para os dedos do meu pé

Unhas encravadas

Que nojo

Começo a escutar gritos, tiros.

Já era outro filme

Que minha esposa assistia dormindo

Tomo um susto

Tinha cochilado

Os meus olhos começam a fechar novamente

Fico pensando como eu posso terminar.

Estas linhas

Expressão de loucura

Com os olhos fechando

A boca se abrindo

Levanto, saio cambaleando, tropicando

Espero que não tome outro susto

Com outro bicho

Escuto um latido, um gemido.

Mas nem ligo

Minhas mãos estão pesadas

Não consigo escrever mais nada

O sono não deixa

É melhor parar por aqui

Tenho que dormir boa noite

PAULO PEREIRA
Enviado por PAULO PEREIRA em 15/11/2022
Código do texto: T7650197
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