DESEJOS, ALMEJOS, APETÊNCIAS E NADA MAIS
Eu quero a linguagem dos jovens
a fala dos pobres
o idioma dos anjos
a sabedoria dos velhos
e os versos maduros
dos românticos e dos sofridos
Eu quero a poesia dos deuses
a natureza pura dos poemas
a prosa silente do cosmos
o brilho ofuscado das estrelas
escondidas por detrás do sol
depois das noites morredouras
Eu quero o gemido dos tempos engarrafados
o suspiro embutido nos passados
o enigma das manhãs vindouras
o olhar para cima dos telhados
e o que se encontra após os montes
além dos horizontes que hoje vejo
Eu quero a inquietude das mãos amantes
o suor dos sonhos nos travesseiros
o inconfessado dos confessionários
a eternidade desejada da alma
o espanto virginal das crianças
e a perfeição imperfeita das incompletudes
Eu quero o futuro das ciganas
o escutar profundo dos oráculos
a intimidade reveladora dos sapatos
o perscrutar miúdo das formigas
as histórias dos paralepipedos antigos
e o taco arrancado da casa da minha mãe
Eu quero fazer versos como quem respira
sentir na pele o sussurrar dos ventos
enxergar o invisível por trás dos olhos
abrir a janela e descobrir o mundo
e um dia me tornar nem que seja por um dia
verdadeira e autenticamente poeta