LIMIARES — 18h05 —

Às dezessete e dezoito, na primavera nova, a tarde

inicia o velório e a despedida, expulsa do prateado

que contornava todo este hemisfério do lado de cá,

e que foi-se embora a bordo da nuvem e da rajada,

quando as cortinas caem, obscurecendo os cenários.

Nesta potência máxima do Spotify e, aqui do quarto,

ouço setlists e baques — mas em tudo somente paira

um verso vencido, e que pretendia ser a sua imagem.

E assisto ao seu movimento sensual, entre lá e acolá,

em qualquer cartografia — você tem éter e é volátil.

Na divisória do morro e do céu, há aquela passagem,

feito carpete verde, e antes das últimas três árvores.

A música espalha-se, e altíssima, das minhas caixas

— o único estandarte que desfila sobre a rua calada.

Velozmente, o grafite degradê ganhou tons variados.

E nada sobrou de você: só eu, as dezoito e a palavra.