POEMA VELHO

Com estes versos enrugados

escritos com mãos que vieram

lá do meio do século passado

teço o caducar das horas que passam

com olhares antigos e renovados

Ao redor os dias findam

cada dia mais cedo

cada dia mais cedo

e eu sempre amanheço

cada dia mais cedo

cada dia mais cedo

Talvez mais adiante morra velho

mais velho do que me dizem que estou

mas como saber-me-ei velho

se velho por dentro não sou

Se por fora carrego ruínas

se as velas no bolo aumentaram

ainda me espanto com o tamanho da vida

e eu aqui pequeno, longevo e centenário

continuo soprando moinhos de vento

ventilando-os com ares de revolucionário

Para mim quem envelhece é o mundo

os outros que me transitam achegados

enquanto continuo seguindo

a canção que vem do outro lado

Posso sentir em meu corpo algum cansaço

nas varizes, na balança, nos músculos

e até quando calço os sapatos

porém, por dentro e por debaixo

meu menino pequeno, longevo e centenário

continua soprando moinhos de vento

cada dia mais cedo

cada dia mais cedo

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 11/11/2022
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