POEMA VELHO
Com estes versos enrugados
escritos com mãos que vieram
lá do meio do século passado
teço o caducar das horas que passam
com olhares antigos e renovados
Ao redor os dias findam
cada dia mais cedo
cada dia mais cedo
e eu sempre amanheço
cada dia mais cedo
cada dia mais cedo
Talvez mais adiante morra velho
mais velho do que me dizem que estou
mas como saber-me-ei velho
se velho por dentro não sou
Se por fora carrego ruínas
se as velas no bolo aumentaram
ainda me espanto com o tamanho da vida
e eu aqui pequeno, longevo e centenário
continuo soprando moinhos de vento
ventilando-os com ares de revolucionário
Para mim quem envelhece é o mundo
os outros que me transitam achegados
enquanto continuo seguindo
a canção que vem do outro lado
Posso sentir em meu corpo algum cansaço
nas varizes, na balança, nos músculos
e até quando calço os sapatos
porém, por dentro e por debaixo
meu menino pequeno, longevo e centenário
continua soprando moinhos de vento
cada dia mais cedo
cada dia mais cedo