A luz no fim do túnel/ ou A caminho da morte
Não feches os olhos
Não me deixes sem saber
O que há por trás dessa doce claridade
Se uma fugaz luz esmaecendo-se na
escuridão de uma noite que deixei de ver
Por causa do apagar da lua
Que esconde sua face
Contando segredo nas estrelas
Que compõem o céu
me apontando o infinito
Ou a treva que faz adormecer
na noite de uma canção pelo espaço
que atravesso sem pisar o chão
Flutuo
Sonho dentro do sonho
Esqueço o meu passado
Deixo de ser eu
Para ser só o Dia
Sem a presença do Amanhã
Sem futuro
Não, não feches os olhos
Não me deixes sem me dizer
Se sim, se não
Ao meu sonho
A minha ilusão
Que não me esqueço
De viver
Sem me deixar de
morrer
Num instante
Saindo do meu corpo
Passeando em loucos lugares
Como se a minha alma
Se deliciasse
em ir por aí
navegando em mares
Como uma barca
Solta ao vento
Ao sabor da brisa
Que marca o passo
Do meu pobre coração
Morro aos poucos
Bem devagarinho
Como só se morre
Uma vez
Em cada noite
Em cada pedaço
de tempo
Em que me esqueço de mim
E penetro na profundidade
da eternidade
Sem tempo de voltar
Sem saber aonde chegar
Passando da escuridão
Para luz sem saber como
Sem se dar conta
Em que momento
deixou de perceber
A vida que corre ao lado
Estremeço
e me dou conta de que
acabei de vir
de um túnel aberto
De passagens
fugidias
Que me leva
para dias, noites
E madrugadas
Em um só momento
Como se a minha vida
Deixasse de ser
O que sempre vivi
E me deixarei ir
Para o horizonte perdido
Mas perfeito de Shangri-la...
(1996)
Raimunda Lucinda Martins
imagem do google