O TRANSITAR DAS SOMBRAS MENINAS
No sombreado sombrio das sombras
fantasmas bailam no tremular
da obscuridade da luz sobre corpos opacos
Nas silhuetas projetadas figuras passam
pelos muros das casas caiadas
com a cumplicidade dos postes distantes
que na calada do escuro iluminam
os meios-fios das ruas desdentadas
Da janela aberta do quarto
a criança observa com olhos espantados
o festim agonizante dos vultos errantes
que por ali se movem e atravessam
a solidão menina das noites acanhadas
Nas paredes maculadas de tempo
as sombras acompanham seus donos
que dobrando as esquinas próximas
carregam consigo os vestígios insonoros
do sonambular das suas breves passagens
Um dia a criança levará na penumbra da alma
seus amigos de escuros e jornadas
pois ele assim como eles também passa
no amanhã em que se mudará
da rua, do quarto e das noites tímidas
ao curvar a última dobra da infância