Rebelião

Um dia a favela se revoltou!

De tanto sofrer

de tanto chorar

de tanto morrer

a favela

celeiro de vida

a favela

nascedouro de arte

a favela

laboratório de poesia

evocou a voz de seus mortos…

E eles

e elas

ouviram.

Era mais uma tarde de operação

os homens já subiam o morro

com seus trambucos armados

as crianças

já se jogavam no chão

e o caveirão

já fazia a ronda.

Mas ao primeiro tiro

e à primeira vítima

um milagre aconteceu

nasceu uma flor no asfalto

ninguém prestou atenção nela

claro!

mas de repente

todos os mortos

floresceram em flores multicores

Brotou Agatha Felix em margarida

Brotou Evaldo em Jasmim

Brotaram todos os jovens sonhadores

todas as mães

todas as filhas

todos os filhos

Foi tanta flor

mas tanta flor

que não deu mais pra subir o morro

mas não foi só ali não, viu?

De repente no Brasil

todas as vítimas floresceram

e chegaram até o Alvorada

tentaram decretar estado de sítio

mas não deu!

No espaço dava pra ver

o colorido tomando conta

e ao invés do vermelho

um arco-iris se formou

e tanto cresceu

que tingiu

até o mais cinza coração.

aí acordei! -