Viajando-me

Quero jogar minhas malas no banco do carro

deixar pra trás essa terra e essas caras

deixar a brisa mais refrescante me levar

e o sonho mais louco me guiar no horizonte

com o som no último volume

Preciso me refazer de uma gente incômoda

que aperta o meu calo e respirar novos ares

em novas prateleiras

pois os instantes e as estantes ainda lembram

aquela velha tristeza que ainda me incomoda

Pode ser Portugal, Rio de Janeiro ou João Pessoa

quero novos caminhos debaixo dos sapatos

novos idiomas, novas culinárias, novos sotaques

quero me olhar com outras caras

uma que seja verdadeira

Jiboias rasteiras ou trepadeiras

plantas atlânticas ou coisas de feira

homens ou mulheres com algum pingo de juízo

seriam bem-vindos e interessantes

Vestir o futuro, deixar o passado no armário

furtar do desconhecido a elegância dos novos ares

invadir conversas sem pedir licença

acender uma ideia e um novo projeto

e prosperar com esperança um entardecer sem compromissos

Ter dentro do peito a vida que quero

e não a que me propõem

e ver que a realidade que não satisfaz

não passa de um ponto de vista.

Em mim ou em mudança?

Talvez comigo, talvez em tudo.

Encontro fugas sem sair do lugar.