NÃO ME ESPERE, NÃO ME AGUARDE, NEM ME QUEIRA
Não me espere no final da tarde
pois de finais já estou saturado
no acumulado dos meus tantos desfechos
Não me aguarde na lateral direita da rua
pois há muito deixei de atravessar fronteiras
e ainda tenho variadas esquinas a dobrar
no lado da calçada em que decidi trilhar
nesta alameda nem sempre arborizada
e um tanto acidentada chamada vida
Não olhe relógios e não conte o tempo
pois sempre fui impontual com os minutos
às vezes chegando antecipado
em outras atrasado perdendo o ônibus
Não me queira diferente do que sou
pois sou desigual às imagens nos espelhos
que se encontram nos azulejados banheiros
da imaginação e dos desejos dos outros
Não me pense o que eu penso
pois meus pensamentos divergem dos seus
e deles só quem sabe são os cabelos grisalhos
no interior da alma de quem realmente sou
Não acredite que vou mudar
pois quando mudar vou me ausentar do mundo
e levar comigo minha caixa de tesouros
que se encontra guardada no escuro
do fundo do baú das minhas perdas