Extremista

São tantos anos na luta/

Esquerda, direita/

Que meu avô dizia/

Tanto faz/

Nada se fez /

E parece um carma/

Que de novo/

Só o sol do amanhã/

Pra aliviar a situação/

Porque ainda agora/

Nas baixadas encharcadas/

Nos morros abandonados/

O meu povo doutrinado/

Come um dobrado de fome/

Ainda calado, sem entender direito/

Se embreaga dessa miséria programada/

Mas como criança/

Guarda na alma a esperança/

Levanta do chão/

Só com o coração/

Acreditando que nessa representação/

Há qualquer coisa como força/

Doce ilusão/

Essa Democracia privilegia/

Anarquistas e oportunistas/

Acomoda a visão/

Falsificando a sensação de horizonte/

A paz almejada até se ascende/

Enquanto a realidade não a sitia/

Embora a ditadura do medo/

Promova manifestação/

Humildes empunham bandeiras/

Com os calos nas mãos/

Vestem a dor com sorriso/

Gritam, viralizam/

Deixam o cansaço no improviso/

Seu filho em qualquer canto sofrido/

Pra fazer parte/

De mais um ato revestido de enganação/

Onde a ideologia da corrupção/

Virou padrão/

Sem rumo, sem partido/

Assistimos combalidos/

A uma manipulação impondo/

A lei um castigo/

Onde a razão insana/

Oculta da juventude tantos descalabros/

Vistos a um palmo dos olhos/

Ainda hoje, de qualquer janela/

Se pode ver esse povo das favelas/

Ignorante revirar o lixo/

Pra exorcizar a fome de famílias

Pelo visto/

Não aprendeste/

Que o caos do abismo/

É permitir banalizarem teus sentidos/

Não aprendeste que induzir ao medo/

Não combina com amor/

Mais uma vez acordarás tarde/

Para compreender que estamos falidos/

E tínhamos que ser o bem de todo esse mal/

Nesse varal/

De mesas de jogo e de negócios/

Os que nos representam/

Não tem compromisso com os temas/

Seguem o vício/

E nós que bebamos os malefícios/

Há tempos que valores foram banhidos/

Os acordos assinados/

Redem dinheiro a bolso inescrupulosos/

Vedando a justiça da lei, aos menos favorecidos/

Em mais e mais/

Esse sistema que te anima/

Sorateiro na penumbra/

Envenena, feri de morte /

Escraviza, aprova mais não/

Do que o que precisa ser/

Então quem é pela nação/

Ou quem é pela ambição/

Essa indiferença/

Essa falta de consciência/

Assina a desigualdade dos irmãos/

E as flores só precisam de água/

Pra iluminar/